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"A Grande Virada é um fato. E está rolando."




quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A internet mudou, mas os internautas continuam os mesmos: ingênuos


Não, meus caros, a Apple não nos mandou 14 iPhones para sortearmos entre vocês


Se você parar para analisar bem, embora o Second Life tenha deixado de ser um sucesso quando ainda era uma promessa, sua metáfora continua muito viva, porque traduz a essência da relação bio-bits que torna cada vez mais imperceptível a fronteira entre homem e máquina, elementos que, na lógica das "cibersociedades" (interpretadas aqui como a fusão completa do digital com o biológico), serão (são?) indissociáveis. Com a popularização do Facebook, então, nosso alterego binário alcança uma relevância à qual se imaginou termos chegado na era de ouro do Orkut, mas só agora temos uma noção de quão grande ela é e de quanto pode ser maior, dado o potencial de engajamento da rede de Mark Zuckerberg, que consegue prender usuários por horas a fio, vouyerizando, jogando, vendendo, comprando, denunciando, mobilizando.

Diante desse cenário, o que não faltam são estudiosos competentes, curiosos atentos e, claro, pseudoespecialistas que – embora, na maioria das vezes, apenas repliquem o óbvio – acabam também contribuindo para a difusão de percepções importantes sobre esses novos paradigmas. Ao mesmo tempo, temos seres humanos cada vez mais informatizados, sejam os chamados nativos digitais, sejam os forasteiros de décadas atrás que têm se adaptado à inexorável nova realidade. Todos retuitam, curtem, compartilham e acham que analisar letras de músicas em comunidades já é mera orkutização démodé (utilizar expressões francesas, então, é coisa da vovozinha!). Mesmo assim, muitos continuam ingênuos.

Tenho acompanhado a movimentação dos virais do Facebook e, dentro desse conjunto, uma parcela me chama bastante atenção por conseguir repercussão explorando as mesmas estratégias – no mínimo, questionáveis – utilizadas pelos spammers de e-mail no início da internet. Isso mesmo: as correntes não morreram. E continuam vivas porque ainda há quem acredite nelas e em mentiras ainda mais inacreditáveis.

Há um tempo, começaram a circular no Facebook imagens de pessoas doentes para quem a rede doaria alguns centavos a cada compartilhamento, crianças desaparecidas (uma menina, inclusive, velha conhecida dos e-mails, já deve ter o dobro da idade informada na mensagem, pelo tempo em que está sendo "procurada" virtualmente) e a mais nova versão do mesmo golpe: os sorteios de produtos da Apple. Tudo com a mesma mecânica e o mesmo objetivo: conseguir público. Com a diferença de que, nos e-mails, os spammers procuravam (e ainda procuram) endereços para montar bases gigantescas e vendê-las em seguida, enquanto no Facebook fanpages garimpam curtidores para, com um grande público formado, comercializar ações na rede voltadas para esses "fãs", que permanecerão lá curtindo e compartilhando o que os golpistas postam.

Utilizando esta imagem, a página Chá de Ideias conseguiu milhares de fãs, engajados em uma falsa promoção de iPhones que teriam sido doados pela Apple para o sorteio. O post já foi removido (Imagem: reprodução)

Conquistar audiência, batalhar por isso e trabalhar comercialmente as conquistas não é feio, não é mal nenhum. É o que o rádio, a TV, o jornal, a revista, o blog, o site e você, com seu perfil no Facebook ou no Twitter, procuram. É assim que as mídias funcionam e nós nos fazemos ouvir nas redes. Mas tudo tem limite. Ou deveria ter. Na prática, uma parcela significativa das "ações bem sucedidas" tem ido até onde a ingenuidade dos usuários permite. E, pode ter certeza: elas têm ido longe.

Nesta semana, uma fanpage iniciou uma "promoção" que sortearia vários iPhones e a postagem foi compartilhada por centenas de milhares de usuários. Poucas horas depois, outras páginas iniciaram ações semelhantes, com "sucesso" parecido. O país Facebook Brasil se engajou. Um mar de gente esperançosa de levar fácil um objeto de desejo para casa. Todos enganados por uma das maiores trollagens dos últimos tempos, que – na prática – não tem graça. É crime.

Aqui no Administradores, contamos hoje com cerca de 85 mil seguidores no Twitter e mais de 130 mil fãs no Facebook. Mas não são os números que nos orgulham, é a consciência de que – por mais híbrida que a humanidade se torne – estaremos sempre lidando com pessoas, que pensam, sentem e agem. Respeitamos e valorizamos a inteligência do nosso público e não apostamos na fraude para conseguirmos vantagens, assim como várias outras marcas que também fazem questão de usar sempre da boa fé na internet. Faça também sua parte, internauta. Leia antes de compartilhar. Duvide antes de acreditar. Não acredite na primeira promessa milagrosa que lhe fizerem. É triste, mas precisamos dizer: a Apple não doa iPhones para sorteios.

 Fonte: Administradores


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